O comportamento deles é exemplo de um movimento que cresce nas igrejas do Estado. Denominado de corte ou compromisso, o movimento prega pelo contato físico mínimo nos relacionamentos e condena a banalização da sexualidade.
Diferentemente da maioria dos casais, a ligação afetiva de Thiago França da Silva, 25 anos, e Franciane Nascimento Ramos, 24, é construída como uma amizade. Por isso, inclusive, a palavra "namoro" não faz parte do vocabulário deles. "Se você começa a beijar, abre brecha para o pecado. O nosso propósito é cortejar e, com isso, colocar Deus entre nós e seguir com ele até o fim", explica Thiago.
Adeptos
Membros do Ministério Internacional da Aliança, eles compartilham o ideal com dezenas de outros jovens de diversas denominações religiosas. Da Comunidade Batista Cristã vem o exemplo de Rômulo Gama Reis, 27 anos, e Sabrina Zanotti Galon, 26, que, depois de quase sete anos de namoro, optaram pelo corte.
"No ínicio, éramos como todos os outros casais. Tínhamos relações sexuais, inclusive. Depois de passarmos um tempo separados, decidimos, este ano, fazer tudo diferente. Queremos nos guardar espiritualmente. Posso dizer que, agora, estamos nos conhecendo melhor", conta Sabrina.
Concepção
Pela concepção da corte, o namoro nasce primeiro no espírito, depois no casamento e, só então, no corpo, explica a pastora do Ministério Internacional da Aliança, Sayonara Freire. "Não é uma exigência das igrejas, mas acreditamos que, dessa forma, os jovens têm mais tempo para se conhecer e desenvolver um afeto verdadeiro, para além do interesse sexual", diz.
Presente no Estado há cerca de cinco anos, movimento já colheu seus primeiros frutos. A pedagoga Daivânia Pardino, 24 anos, e o vendedor Gelison Silva Danato, 26, casaram-se há cinco anos, em Linhares. Pais orgulhosos de gêmeos, eles contam que, na época, a corte era vista com preconceito por quase todo mundo, incluindo membros da igreja que frequentam.
"As pessoas não entendiam. Falavam que eu tinha que aproveitar a vida, que aquilo era besteira. Por causa da pressão, acabamos nos beijando algumas vezes, mas, depois, voltamos à corte. Assim, eu puder conhecer melhor o meu marido, sem me deixar levar pela paixão", diz Daivânia.
Hoje, algumas igrejas já oferecem orientação específica aos casais que optam pela corte. Na maioria das vezes, o acompanhamento é feito por outros casais que já celebraram o mesmo tipo de compromisso. É o caso de Thiago Balestrassi, 31 anos, e Fernanda Gama Reis Balestrassi, 30, casados há um ano e três meses. "A gente ora com os jovens, ajuda a superar os desafios e as tentações, aconselha quando eles pedem, e também explica que o beijo não é pecado, mas que evitá-lo ajuda a construir um casamento santo, diz Thiago.
Ritual
Antes de darem o primeiro passo para o relacionamento, os casais são orientados a orarem um pelo outro, em busca de um sinal de Deus. É esse sinal que vai indicar se o pretendido ou a pretendida é o escolhido de Deus para si. A partir daí, as famílias devem concordar com a corte e, só então, o casal está liberado para se relacionar.
O limite do contato físico, diz o pastor da Comunidade Batista Cristã, Pedro Noia, é o mesmo que se tem com um irmão de sange. "O casal não deve fazer com o outro aquilo que não faria com um irmão. Sair, ir ao cinema, visitar o outro, tudo isso é permitido. Semeando um relacionamento santificado, eles colhem um casamento abençoado no futuro", afirma.
Compromisso
No país, o compromisso-que se difere da corte basicamente pelo nome- tem como principais difusores o apóstolo Mauricio e a bispa Raquel Castro, do Ministério Internacional da Restauração (Mir), de Manaus, onde existe há cerca de 10 anos. A proposta de relacionamento que, só na Mir, já alcançou mais de 10 mil jovens, baseia-se em diálogo, oração e intimidade com Deus. Chefe da Mir, o pastor Marcelo Mattos diz que a orientação é que os casais só entrem em compromisso a partir dos 18 anos de idade. "Antes disso, os sentimentos e decisões do adolescente ainda estão imaturos. O compromisso preserva a integridade do casal, mas precisa ser assumido com seriedade", explica Mattos.
Pelo ritual, o casal deve orar pelo outro por cerca de três meses antes de entrar no compromisso, e manter o relacionamento por um ano até o casamento. Segundo ele, a proposta não tem base bíblica, mas defende a ideia dizendo que o namoro também não está previsto no livro sagrado. "A Bíblia só fala no casamento. Se fôssemos levar ao pé da letra, também ninguém poderia namorar", argumenta. Para ele, a proposta tem muito mais a ver com uma realidade que está colocada, e na qual a Igreja tem o papel de agir. "Hoje, os jovens estão deixando seus sentimentos serem frustrados por relações que só se baseiam no sexo. A relação carnal é pregada pela sociedade. O que propomos é o contrário disso: um relacionamento santificado", justifica.
Fonte - Jornal A Gazeta, Vida, Pág. 48 e 49, 11 de setembro de 2011
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