Jovem volta à vida em São Mateus

A estudante Cristiane Barbosa Santos, 17 anos, de São Mateus, Norte do Estado, há um ano sofreu um acidente, foi dada como morta três vezes pelos médicos e voltou de um estágio entre a vida e a morte para contar a sua própria história.

Ela foi atropelada por uma carreta na BR-101, que quase tirou a sua vida, mas se recuperou totalmente e leva uma vida normal, estudando e alimentando o sonho de ser médica geriatra, apesar de ainda ter medo de andar sozinha pelas ruas. A mãe, a auxiliar de serviços gerais, Margarida Barbosa, 41, disse que durante o tempo em que a filha esteve internada em coma, por 45 dias, os médicos do hospital Roberto Arnizaut Silvares chegaram a dizer, por três vezes, que Cristiane não teria recuperação, pois estava com morte cerebral. "Por três vezes eles disseram que ela estava com morte cerebral e chegaram a me ligar pedidno para doar os seus órgãos. Eu não deixei. Pedia para que eles fizessem o que fosse possível para salvar a vida da minha filha, até que um médico fez um tipo de exame e ela reagiu tossindo. Ali ela deu o primeiro suspiro para voltar à vida", relembrou Margarida.
Amigos da adolescente chegaram a ir à casa dela para organizar o velório, mas Margarida mantinha firma a sua fé. "Eu acreditei até o último minuto que ela iria sair daquele hospital com vida. ALguns médicos diziam o tempo todo que ela não iria se recuperar e que era para eu rezar. Um funcionário chegou a me falar uma vez que os olhos dela eram lindos, que quem recebesse ficaria feliz", disse.

Experiência

Mesmo inconsciente durante todo o tempo em que ficou internada, a adolescente relata que viveu uma experiência de outro mundo. "Eu recordo que tinha uma pessoa com voz de homem do meu lado dizendo para eu ter paciência, que eu iria me recuperar, que enquanto eu estava ali deitada, o meu pai estava reformando o meu quarto", disse a adolescente. Ela contou ainda que abraçou essa pessoa e que, em seguida, uma luz a salvou. "Eu me via deitada sem os aparelhos quando de repente acendeu uma luz forte perto de mim. A pessoa pedia pra eu olhar para a luz. Fiquei com medo. Sabia que se eu olhasse, aquela pessoa iria embora. Logo depois eu acordei", contou Cristiane.

Recuperação após morte cerebral

O diretor do hospital Roberto Arnizaut Silvares, Valdenir José Belinelo, disse que o fato de uma pessoa com morte cerebral voltar à vida não é raro.
Para que seja comprovada a morte cerebral, Belinelo disse que os médicos devem primeiro fazer uma triagem e constatar clinicamente a morte. Em seguida, é necessário fazer exame complementar de eletroencefalograma para constatar se houve morte ou não. "A morte clínica nem sempre quer dizer que a pessoa está morte. Somente após o exame complementar pode haver precisão", afirmou o diretor, que explicou que não houve falta de ética dos profissionais de saúde no caso. "Quando é constatada a morte clínica, os médicos e a equipe de assistência social devem fazer contato para solicitar a doação dos órgãos, em tempo hábil, para que não se perca o que pode ser aproveitado. Foi o que deve ter ocorrido", disse Benileno, que não trabalhava no hospital na época. "Os médicos devem sempre buscar a vida do paciente e têm até seis horas para acompanhar o estado clínico da pessoa para então poder da um laudo", observou.

Para Higor Rocha Guimarães Souza, fisioterapeuta que cuidou da recuperação de Cristiane, a situação da estudante era difícil. "Ela não possuía movimentos no lado direito do corpo, não sentava, perdeu massa e força muscular. Todos achavam que ela ficaria em estado vegetativo para sempre. Mas felizmente, conseguiu se recuperar", analisou.

Apoio da família e amigos

A ajuda de familiares e amigos foi fundamental para a recuperação de Cristiane, que após ter sido atropelada, foi hospitalizada. Muitos iam até o hospital para dar apoio e fazer orações.
De acordo com Margarida Barbosa, mãe da estudante, o hospital sempre ficava cheio nos horários de visita. "Todos ficaram comovidos com a história dela e faziam orações para ela melhorar. Era ela quem mais recebia visitas, entre todos os pacientes do hospital", contou. Margarida disse ainda que uma tia de Cristiane, que morava no município da Serra, chegou a largar o emprego para ajudar a sobrinha. "Essa tia saiu de casa e veio nos ajudar. Ela largou tudo".
Desde que recebeu alta da fisioterapia, Cristiane não precisou mais tomar remédios e, quando volta ao hospital para visitar, é recebida com festa. "Quando levo minha filha ao hospital, é festa. Quem trabalha lá e quem estava na época em que ela foi internada vibra ao vê-la totalmente recuperada. Eles consideram como um milagre divino".

Igrejas comentam o caso

A visão do homem que a estudante Cristiane Barbosa Santos disse ter visto e abraçado quando estava em coma no hospital é considerada normal, por religiosos.
Segundo o pastor de uma igreja evangélica de São Mateus, Nilis Castberg, o fenômeno pode ser atribuído à presença de Deus. "Foi, sem dúvida, uma presença sobrenatural de Deus, que tem um propósito para a vida dela".
Para o padre de Conceição da Barra, Moacir Pinto, Cristiane pode ter ouvido as orações das pessoas ao seu redor e interpretou como uma presença divina. "Quem está em estado de coma, não consegue perceber ou se comunicar com quem está a sua volta. Ela pode ter ouvido rezas e, depois que acordou, pensou ter falado com alguém", analisou o padre.
"Cientificamente já é comprovado que grupos de orações ajudam de forma diferenciada na recuperação do paciente. Essa menina passou por uma experiência que não é nenhuma novidade, mas que pode ter mudado a sua vida, tornando-a uma pessoa com mais fé", disse o padre.



Fonte - Jornal A Tribuna, Pág. 16 , 25 de setembro de 2011

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