sexta-feira, 12 de agosto de 2011

John Piper - Carta a um adolescente inseguro


Há quatro anos, um adolescente de nossa igreja me escreveu em busca de conselhos sobre a vida, em geral, e sobre identidade, em particular. Aqui está a minha resposta, com uma grande dose de autobiografia como ilustração.





Caro ________,

Minha experiência de passagem pela vida introvertida, insegura, pecaminosa e egoísta de adolescente foi mais como a transformação de um girino em sapo do que uma lagarta em borboleta.

A lagarta desaparece dentro do casulo e experimenta privativamente algumas transformações inexplicáveis enquanto ninguém está assistindo (e provavelmente é uma bagunça lá dentro), até que o casulo se abra e todos digam “ohhhh”, “ahhhh”, “lindo!”. Não foi assim que aconteceu comigo.

Sapos nascem como coisinhas aquáticas minúsculas e gosmentas. Eles não ficam em exposição no zoológico. No máximo, em alguma piscina abandonada de hotel de beira de estrada, desde que o lugar tenha sido abandonado há mais de 20 anos e haja uma camada de meio metro de musgo verde no fundo.

Mas pouco a pouco, porque são predestinadamente santos sapos por meio de DNA espiritual (obtido pelo novo nascimento), eles começam a nadar mais e mais pela água esverdeada e começam a se parecer mais como sapos de verdade.

Primeiro, pequenas patinhas começam a surgir em suas laterais. Estranho. Nesse estágio, ninguém pede que eles dêem testemunho na noite dos atletas premiados.

Depois, vem as pernas. As costas encurvadas. Os peixes da piscina abandonada já se afastam: “hmmm”, eles dizem, “esse aí não parece mais com um de nós”. Um sapo desenvolvido pela metade não se encaixa em lugar algum.

Mas Deus é bom. Ele tem um plano e nele não está incluída uma metamorfose fácil. Apenas necessária. Há milhares de lições a serem aprendidas nesse processo. Não há desperdício. A vida não fica esperando enquanto você não termina de se transformar. É isso que as larvas fazem no casulo. Mas os sapos estão em público durante todo esse processo de mudança.

Penso que a chave, para mim, foi buscar ajuda no apóstolo Paulo, em C. S. Lewis e no meu pai, já que todos sempre me pareceram muito saudáveis, precisamente porque eles estavam sempre maravilhados com qualquer coisa, menos consigo mesmos.

Eles me mostraram que a saúde mental não está em gostar de mim mesmo, mas estar alegremente interessado em qualquer coisa que não seja eu mesmo. Eles eram o tipo de pessoa que se maravilhavam porque as pessoas tinham narizes – não narizes estranhos, apenas narizes – e por isso, andar em qualquer rua muito cheia era como uma viagem ao zoológico. Claro, eles também tinham narizes, mas eles não conseguiam ver o seu próprio. E porque eles iriam querer isso? Veja quantos narizes eles poderiam ver por aí! Fantástico.

A capacidade de maravilhamento desses homens era enorme. Eu me espantei com isso e orava para que parasse de perder tanto tempo e tanta energia emocional pensando sobre mim mesmo. “Eca”, eu pensava. O que estou fazendo? Por que eu deveria me importar com o que as pessoas pensam de mim? Eu sou amado pelo Deus todo poderoso, e ele está me transformando em um belo sapo saltitante.

O texto mais importante do meu processo de transformação anfíbia foi 2 Coríntios 3.18:


E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito.


Esse foi um dos maiores segredos que eu descobri: contemplar é se tornar.

A introspecção deve dar lugar ao maravilhar-se com a glória. E quando isso acontece, a transformação acontece. Se há alguma chave para a maturidade, é essa. Contemple seu Deus em Jesus Cristo. Então você será capaz de ir de girino a sapo. Essa foi uma grande descoberta.

Claro, eu nunca vou precisar falar em público (eu pensava), já que sou tão ansioso. E talvez eu nunca me case, eu tenho muitas espinhas. As garotas da faculdade me assustam até o último fio de cabelo. Mas Deus já me alcançou (Filipenses 3.12), e ele tem um plano, e ele é bom, e há um mundo aí fora, visível e invisível, cheio de coisas para serem descobertas e admiradas – porque eu iria arruinar minha vida pensando tanto em mim mesmo?

Sou grato a Deus por Paulo, Lewis, e meu pai! Isso tudo é tão óbvio agora. Eu sou simplesmente muito pequeno para satisfazer os desejos e ânsias do meu coração. Eu queria provar e ver algo grande, maravilhoso, belo, eterno.

Eu comecei observando a natureza, e acabei observando Deus. Eu comecei na literatura, e acabei em Romanos e Salmos. Comecei a caminhar pela grama, pelas florestas e lagos, e acabei trilhando os caminhos da teologia. Não que a natureza, a literatura, a grama, as florestas e lagoas tenham sido esquecidas, mas se tornaram cópias e sinais óbvios.

Os céus estão declarando a glória de Deus. Quando você vai dos céus à glória de Deus, o céu não deixa de ser glorioso. Mas ele não é uma divindade, quando você descobre o que ele comunica. Ele está sinalizando, apontando. “Do nascente ao poente despertas canções de alegria.” (Salmo 65.8).

O que o nascente e o poente estão cantando com tanta alegria? Seu Criador! Eles nos convidam a acompanhá-los. Mas se estou resmungando por causa dessa espinha no meu nariz, eu não vou nem olhar pela janela.

Então, meu conselho é: seja paciente com a forma que Deus planejou para que você se torne um alegre e saltitante sapo. Não se contente em ser apenas um girino ou um sapo transformado pela metade. Mas também não se surpreenda pela estranheza e demora do processo.

Como eu me tornei um pregador? Como eu me casei? Só Deus sabe. É incrível. A sua transformação em quem você será aos 34 também será incrível. Apenas se mantenha no caminho e observe. Observe, veja. Há muito para ser visto. A Bíblia é infinita. Olhe principalmente para ela. O outro livro de Deus, aquele que não tem autoridade – a natureza – também é infinita. Veja, veja, veja. Ao contemplar a glória do Senhor, somos transformados.

Eu te amo, e creio que Deus tem grandes coisas anfíbias pra você. Não se preocupe por ser apenas um saltitante sapo cristão. Sua alegria vem daquilo que você contempla.


Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. (1 João 3.2)


Há outra metamorfose para acontecer. Vai só melhorando. Deus é infinito. Então sempre haverá mais da glória dele para uma mente finita perceber. Não há tédio na eternidade.

Com carinho,

Pastor John.




Traduzido por Filipe Schulz | iPródigo.com









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