segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Muçulmanos viram cristãos na Espanha...


O marroquinho S. Benaessa se preocupa com seus pais. Eles irão para o inferno, diz. Não porque repudiaram o filho que deixou para trás sua cidade natal, Agadir, e, com ela, Maomé. Mas sim porque - explica -só aceitando Jesus como Salvador é possível morrer sabendo que o céu lhe reserva uma vaga.
Benaessa, que há 14 anos não vê sua família, é um dos cerca de 100 muçulmanos convertidos ao cristianismo evangélico na Espanha - um caminho duro que, nos últimos três anos, vem ganhando mais seguidores.
Na direção contrária, no entanto, podem chegar a 40 mil os novos devotos de Alá nascidos em berço cristão, cinco séculos após a expulsão dos muçulmanos da Espanha pelos reis católicos - Fernando e Isabel.

Cursando o penúltimo ano do seminário evangélico, o futuro pastor se recusa a ser fotografado com o rosto à mostra. "É difícil e arriscado mostrar-se publicamente como ex-muçulmano. Já chegue a fazer o ramadã para manter a fachada, já que morava num bairro com muitos imigrantes marroquinos", explica Benaessa, de 34 anos, referindo-se ao mês sagrado em que os muçulmanos jejuam durante o dia.
"Para os muçulmanos, sou um infiel. E no Alcorão está claro: aos traidores a pena é a morte. Meus pais disseram que só posso voltar a vê-los se me reconverter".

A presença de ex-muçulmanos costuma ser muito discreta entre dezenas de batismos mensais que fazem crescer a atual cifra de 1,2 milhão de evangélicos na Espanha, segundo a Federação de Entidades Religiosas Evangélicas.
Muitos deste batismos, inclusive, não se realizam dentro das igrejas. Benaessa, por exemplo, foi batizado com outras 20 pessoas na casa de um amigo. Dos 20, só Benaessa e um colega tinham seguido o Islã.
"Meus pais, embora não tenham me rejeitado, preferiam qualquer coisa menos isso. Minha mãe e minha irmã vieram a meu casamento, e quando vêm me visitar, às vezes me acompanham à igreja. Já meu pai resiste mais, não tanto por ele, mas pelo que os outros possam dizer. Durante o ramadã, temos longos debates teológicos", conta o músico e técnico de qualidade de telemarketing Samir, de 28 anos.
Ele frequenta a mesma igreja de Benaessa e também se nega a ser fotografado, ou a dar o sobrenome, temendo represálias.


Fonte - Jornal A Tribuna, 31 de Julho de 2011, pág. 64










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